Sunday, April 5

A Lebre e o Leão

Existiu certa vez em uma terra muito distante - tão longínqua que não se encontrava em livros ou mapas - uma lebre que se apaixonara por um leão. E resolveu, então, correr toda a floresta declarando o seu amor pelo felino. Todos os animais espantaram-se com o que ouviam.

- Mas isso é inadmissível! - ralhava o jumento.

- Tudo culpa do coelho! - acusavam as cobras como se soubessem de algo.

- Ela tem que se pôr no seu lugar! - gritava o macaco.

- Isso não vai dar certo! - era a opinião geral dos animais.

Mas a frágil lebre muito pouco se importava com o que falavam, de fato estava apaixonada pelo imponente leão. Ela o amava como jamais amara alguém. Só conseguia pensar nele, e no que o falaria quando se encontrassem. De fato, não agüentava de tamanha alegria, e corria todos os dias pela floresta gritando o quanto o amava.

Com o tempo, os animais começaram a acostumar-se com a idéia. Já aceitavam que a lebre o amava de verdade e que talvez pudessem ser felizes juntos. Alguns se aproximavam dando conselhos, outros para contar sobre seus próprios casos de amor. Até as antas já discutiam como seria o enxoval do grande casamento que viria.

Então, eis surge o gambá dizendo que o leão abeirava-se. Os animais sem demora correram atrapalhados para esconder-se e observar a bela cena de amor que despontaria. E por detrás de árvores escolheram excelentes postos de observação. Estavam todos prontos, enquanto a célere criaturinha esperava na clareira.

O majestoso leão, ainda meio sonolento, adentrou na clareira com seu andar inquebrantável e soberano, onde se deparou com a ansiosa figura no meio da mata.

Seu pequeno coração de lebre palpitava de felicidade. As palmas das suas patas - patas têm palmas? - suavam de tanta emoção. Ela respirava fundo preparando o que iria recitar...

Já havia ensaiado tanto e decorado todas as frases, palavra por palavra, que iria dizer para o ser amado. Gaguejou quando ia começar a declamar, sentiu um nó na garganta e um frio no estômago. Não conseguia coordenar seus pensamentos de tamanha felicidade. Ela então se aproximou e limpou a garganta para começar a proclamar o seu amor.

De uma só vez o leão a abocanhou e a engoliu sem sequer mastigar, matando sua fome. Virou-se e foi embora abanando seu rabo, deixando para trás uma platéia de atônitos animais.

1 comment:

  1. Tatiana7:46 PM

    Por essas e outras é que precisamos pelo menos tentar separar a razão da emoção.

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